COMBUSTÍVEIS SUSTENTÁVEIS
Documento defende rota pragmática unindo etanol, biometano e eletrificação para cumprir metas climáticas
O setor brasileiro de biocombustíveis lançou a Carta de Belém, documento que propõe um esforço internacional para quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035. A meta segue as recomendações mais recentes da Agência Internacional de Energia (IEA).
O texto é assinado pela Anfavea, Bioenergia Brasil, Instituto MBCBrasil e Unica, que liderou a elaboração do documento. A carta apresenta um diagnóstico direto: o mundo está atrasado na descarbonização da mobilidade e não cumprirá o Global Stocktake sem combinar eletrificação, combustíveis sustentáveis e novas rotas tecnológicas.
Como base desse argumento, o setor apresenta o caso brasileiro. Após cinco décadas de políticas como Proálcool e RenovaBio, o Brasil construiu uma das matrizes energéticas mais limpas entre as grandes economias, com 29% de bioenergia e 20% de outras fontes renováveis. A oferta de bioeletricidade também cresceu e chegou a 21.000 GWh em 2024, equivalente a 4% do consumo nacional.
Para o presidente da Unica, Evandro Gussi, o Brasil demonstra que os biocombustíveis são uma solução escalável e competitiva.
“O etanol é uma tecnologia comprovada, integrada às cadeias produtivas. O Brasil mostrou que é possível descarbonizar enquanto se gera emprego e competitividade. A Carta de Belém traduz esse aprendizado para que outros países avancem com segurança e velocidade”, afirmou.
Eletrificação e biocombustíveis devem caminhar juntos, diz setor
A carta também reforça a complementaridade entre eletrificação e biocombustíveis. Segundo o documento, países com forte base agrícola e infraestrutura limitada de recarga podem reduzir emissões de maneira mais rápida ao combinar híbridos flexfuel, etanol, biometano e eletricidade.
“A aposta em diferentes tecnologias é o melhor caminho para acelerarmos a descarbonização. Os biocombustíveis são aliados fundamentais, com impacto real no transporte leve e pesado”, disse Igor Calvet, presidente da Anfavea.
Biometano ganha papel estratégico na transição
A Carta de Belém destaca ainda o potencial do biometano, combustível de baixa ou até negativa intensidade de carbono. A partir de resíduos agrícolas e urbanos, o Brasil poderia produzir 120 milhões de Nm³ por dia, o que substituiria até 60% do diesel usado no transporte nacional. A tecnologia tem aplicações no transporte pesado, na logística, na indústria e, na forma de BioLNG, também na navegação.
.Para Mário Campos, presidente da Bioenergia Brasil e da SIAMIG Bioenergia, o Brasil está pronto para ocupar uma posição de liderança.
“Os biocombustíveis são parte estratégica da solução climática do Brasil. A Carta de Belém mostra ao mundo que etanol, bioenergia e combustíveis de baixa emissão já entregam resultados concretos em descarbonização e desenvolvimento regional”, afirmou.
Documento ecoa avaliações da IEA, ICAO e IMO
A carta também dialoga com avaliações de organismos internacionais como IEA, ICAO e IMO, todos alinhados em reconhecer que combustíveis sustentáveis,líquidos, gasosos e derivados de hidrogênio, serão decisivos para reduzir emissões na aviação, navegação e indústria pesada.
O documento lembra que 70 países já adotam mandatos de mistura obrigatória e que a expansão dessas rotas precisa garantir ganhos sociais, como geração de emprego no campo, renda regional e valorização de cadeias produtivas de baixo carbono.
“O Brasil demonstra há 50 anos que descarbonização eficaz é aquela que também gera emprego e fortalece a economia”, afirma José Eduardo Luzzi, presidente do Instituto MBCBrasil.
“Não há solução única. A rota brasileira, baseada no etanol, biometano, biodiesel e bioeletrificação , é testada, imediata e pragmática”, completou.
Financiamento será decisivo para acelerar a transição
A Carta de Belém estima que a transição energética exigirá investimentos entre US$ 29 e 30 trilhões até 2030. Para os signatários, entre US$ 1,3 trilhão deveriam ser direcionados a combustíveis sustentáveis em países em desenvolvimento.
O documento também defende previsibilidade regulatória e acesso a financiamento competitivo. Segundo as entidades, a experiência brasileira coloca o país em posição estratégica para influenciar uma transição global mais rápida e inclusiva
Por: Hildeberto Jr. | Fonte: Canal Rural
