ETANOL DE MILHO

Setor se consolida com apoio do RenovaBio e investimentos bilionários, mas enfrenta entraves diplomáticos com os EUA

O programa Proálcool, lançado na década de 1970 como resposta à crise do petróleo, colocou o Brasil na vanguarda mundial dos combustíveis alternativos a partir da cana-de-açúcar. Meio século depois, um novo protagonista desponta no setor energético: o etanol de milho. Segundo reportagem publicada pelo Brazil Stock Guide, a produção disparou nos últimos anos e projeta alcançar quase 10 bilhões de litros em 2025, cerca de um quarto da produção de etanol de cana.

Em 2017, o país contava com apenas uma usina dedicada exclusivamente ao milho, com capacidade anual de 500 milhões de litros. Hoje, já são 24 unidades em operação e outras 16 em construção, concentradas principalmente no Centro-Oeste, mas em rápida expansão em direção ao Nordeste. Até 2028, a expectativa é de uma produção distribuída de forma mais equilibrada pelo território nacional.

Estrutura flexível e impacto no agronegócio

O crescimento acelerado se deve, em parte, ao avanço das chamadas plantas flex, capazes de processar tanto milho quanto cana, reduzindo a sazonalidade da produção e aumentando a eficiência do setor. Além do combustível, cada usina também atua como uma fábrica de proteína. Os coprodutos do processo, como o DDG e o DDGS (grãos secos de destilaria), ricos em proteínas, são utilizados na alimentação de bovinos, suínos e aves. Assim, o milho se transforma em energia e ração, criando uma cadeia integrada que fortalece o agronegócio.

Papel do RenovaBio e credibilidade internacional

O programa federal RenovaBio foi fundamental para consolidar o segmento. Com metas de descarbonização e a criação dos créditos de descarbonização (CBIOs), negociados no mercado, o programa deu previsibilidade ao setor e atraiu investimentos bilionários. O etanol de milho ganhou, assim, um “selo verde” que amplia sua competitividade tanto no mercado interno quanto externo.

Além disso, a tecnologia conhecida como alcohol-to-jet abre caminho para transformar o etanol em combustível sustentável para aviação, o que pode inserir o Brasil em um mercado global de alto valor agregado.

Desafio diplomático com os Estados Unidos

O principal risco para o futuro do setor está na arena internacional. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs tarifa de 50% sobre o etanol brasileiro — medida que atingiu sobretudo a produção de cana, cujas exportações são direcionadas quase exclusivamente para programas de descarbonização da Califórnia, como o RFS e o LCFS.

Trump pressiona o governo Lula a reduzir a tarifa de 18% que o Brasil aplica sobre o etanol americano. O presidente norte-americano chegou a afirmar que existe “química” em sua relação com o mandatário brasileiro, mas, para analistas do setor, Brasília não demonstra disposição em ceder após o aceno.

Por: Otávio Rosso | Fonte: Brasil 247


  

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