IMPASSE
Unica, que representa a indústria, e Orplana, a associação de produtores, ainda discutem a revisão do sistema de cálculo do valor da matéria-prima
Nove meses depois de firmarem contrato para tentar encerrar as divergências sobre o cálculo do reajuste do preço da matéria-prima, usinas e produtores de cana-de-açúcar continuam em um impasse. O novo capítulo das discordâncias tem relação com a efetiva aplicação do sistema de definição dos valores, que segue pendente.
Em 28 de junho do ano passado, a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) e a União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica) assinaram contrato com o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro) para que a instituição ficasse responsável pelos estudos que embasariam o cálculo do chamado Açúcar Total Recuperável (ATR), indicador que define quanto as usinas pagam aos produtores de cana pela matéria-prima.
De acordo com a Unica, o FGV Agro entregou o relatório dos estudos em 17 de janeiro deste ano. A entidade afirma que o contrato previa que, a contar da data de entrega, Orplana e Unica teriam 60 dias para se manifestar sobre o relatório e fazer eventuais sugestões. Depois disso, o sistema passaria a vigorar.
A Unica alega que o prazo já se encerrou. No dia 31 de março, o Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana), a entidade formada por Unica e Orplana, comunicou que os estudos necessários à revisão dos parâmetros técnicos e econômicos ainda não terminaram.
“Ratificamos que eventuais ajustes serão aplicados retroativamente na safra 2024/25. As tratativas estão em andamento para que se possa finalizar o trabalho com a maior celeridade possível”, declarou a entidade. Unica e Orplana se revezam na presidência do Consecana – no momento, é a associação dos produtores que encabeça o conselho.
A Unica disse que apresentaria na noite desta terça-feira, 8, uma notificação extrajudicial para solicitar a adoção do novo cálculo. O Globo Rural não teve acesso ao conteúdo do documento nem pôde confirmar se a entrega efetivamente ocorreu. “Estamos impedidos de aplicar os resultados do estudo”, disse o presidente da Unica, Evandro Gussi.
O presidente da Orplana, José Guilherme Nogueira, disse à reportagem que o processo está bem perto da conclusão, mas que ainda faltariam “detalhamentos” do estudo. Sem esses materiais, que ambas as entidades solicitaram, argumenta, não se poderia considerar a contagem de 60 dias a partir de 17 de janeiro.
“Todos queremos um processo célere, mas não podemos repetir erros do passado. Esse cuidado vai dar tranquilidade para toda a cadeia”, afirmou.
Por: Patrick Cruz | Fonte: Globo Rural